Vida e obra de Kant
Immanuel Kant (1724-1804), filósofo e
professor universitário, nasceu em Königsberg, na Alemanha, onde passou toda a
sua vida, só uma vez deixa a sua Königsberg natal, e não mais de 12 km, há
um curioso contraste, entre a sua pacata vida provinciana e o alcance universal
de seu pensamento, bem pode dizer-se que encarna as virtudes e talvez o
aborrecimento de uma vida integralmente dedicada ao estudo e ao ensino.
Homem piedoso e de profunda
religiosidade. É sóbrio de costumes, benévolo, pacifista convencido,
antimilitarista e alheio a qualquer forma de patriotismo exclusivista. Foi um
homem de hábitos metódicos, esse caráter se reflete em sua obra, em que cada
conceito é cuidadosamente trabalhado antes que se passe ao próximo, constrói
uma parede, tijolo após tijolo.
Intimamente imbuído dos ideais do
Iluminismo, experimenta profunda simpatia pelos ideais da Revolução Francesa e
da independência americana.
A exigência da clarificação do pensamento
kantiano é tal que apenas a partir dessa postura se tem capacidade para
examinar o seu sentido e alcance nos campos da teoria do conhecimento e da
filosofia da ciência. Kant está intelectualmente situado numa encruzilhada, a
partir da qual elabora diversas interpretações da razão, ponto de partida do
pensamento moderno de onde se determinam: A ação moral, o trabalho científico,
a ordenação da sociedade, e o projeto histórico em que a sociedade se encontra.
Não é possível redigir-se aqui uma
exposição do sistema filosófico de Kant, coisa que requer todo um volume. Basta
assinalar que o grande objetivo de Kant é determinar as leis e os limites do
intelecto humano para ousar enfrentar, por um lado, o dogmatismo arrogante
daqueles que sobre-estimam o poder da mente humana e, por outro, o absurdo
ceticismo daqueles que o subestimam. Apenas deste modo ou seja, por meio de uma
crítica que determine as leis e os limites da razão humana poderão arrancar-se
as raízes do materialismo, do fatalismo e do ateísmo. E propõe-se, com isso,
pôr fim a toda a futura objeção sobre a moralidade e a religião, apresentando
as mais claras provas da ignorância dos seus adversários.
Ao empregar a palavra “crítica”, Kant
está interessado em questionar a validade do nosso conhecimento e de nossos
valores. Em outras palavras, faz da crítica do conhecimento um pré-requisito
para a Filosofia, daí o termo criticismo Kantiano.
Quanto ao seu sistema filosófico, o
mesmo sugere um paralelo com Copérnico. Kant imagina para a filosofia o mesmo
que imagina Copérnico para a astronomia. É o próprio Kant quem
compara a revolução operada por Copérnico quando propôs substituir a
teoria de que os astros giravam, pela suposição de que os astros se mantinham
imóveis, sendo antes o espectador quem girava. Com a revolução operada na
filosofia, ao substituir a ideia de que os nossos conhecimentos devem
regular-se pelos objetos, por uma ideia de que são os objetos que se regulam
pelo nosso conhecimento.
Assim como Copérnico determina a
importância relativa e a verdadeira posição da Terra no sistema solar, Kant
determina os limites e a verdadeira posição do intelecto humano relativamente
aos objetos do seu conhecimento. E do mesmo modo que Copérnico demonstra que
muitos dos movimentos aparentes dos corpos celestes não são reais, mas, se
devem ao movimento da Terra, Kant mostra que muitos fenômenos do pensamento
requerem explicação, mas não os atribuindo, como muitos filósofos, a causas
externas independentes, mas às leis essenciais que regulam os próprios movimentos
do pensamento.
Quanto aos limites da razão, são
impostos pela sua própria natureza. A razão é uma e a mesma para todos os
povos, homens, culturas e épocas, e tem uma essência ou natureza própria,
que se desenvolve no tempo e no espaço, e, além disso, é o instrumento ou meio
de conhecer como interpretar o mundo e exercer a crítica.
Kant encarna a razão ilustrada, expressa
com clareza e exatidão o caráter autônomo da razão, tal como a concebem os
iluministas, o iluminismo é o fato que leva o homem a deixar a menoridade de
que ele mesmo é culpado, a referida menoridade consiste na incapacidade, na
falta de ânimo e de decisão para se servir do próprio entendimento, com
independência, sem a direção de outro, se a causa da mesma não reside num
defeito do entendimento. “atreve-te a servir-te do teu próprio entendimento”:
tal é a divisa do iluminismo.
Por outro lado, a razão iluminista é
crítica contra os preconceitos, contra a tradição, contra a autoridade não
racional, contra a superstição. Assim compreendida, não é uma mera negação de
certas dimensões da realidade e da vida, ou de questões como a legalidade
política, a religião ou a história, mas a recusa de um modo de entendê-las que
se opõe à ideia de clarificação racional. A razão iluminista é analítica no
sentido em que é capacidade de adquirir conhecimentos da experiência e a
capacidade de analisar o empírico tentando compreender, numa aliança entre o
empírico e o racional, a lei que governa. A razão ilustrada é, além do mais,
tolerante. Como dizia Voltaire, a tolerância é o patrimônio da razão.
Diante da questão epistemológica da
possibilidade ou não do conhecimento, o que realmente será colocado em questão
é a razão pura, em outras palavras, é necessário fazer uma crítica da razão
teórica, onde demonstrar-se-ão os seus limites e sua possibilidades, aonde o
conhecimento humano pode ir e aonde ele se detém, para com isso poder julgar
quais conhecimentos possuem caráter científico e quais não o são possíveis,
portanto, sem fundamento.
A partir de uma reflexão sobre a física
newtoniana e a lógica aristotélica, da filosofia racionalista e da filosofia
empirista, Kant busca desenvolver, uma teoria do conhecimento ligada a uma
filosofia da ciência. O argumento dele é que, apesar de todo o conhecimento ter
a sua origem na experiência, esta, por sua vez, deve ser problematizada e não
"dada" como já compreendida, e esta problematização vai nos levar a
estabelecer sua relação com a razão humana, pois é graças à razão que a
experiência científica torna-se possível, e, sem esta razão, a
"experiência" não passa do sensorial imediato, se a racionalidade
experimental pressupõe a razão pura, essa prescinde da primeira.
A proposta do criticismo de Kant é
exatamente dar uma descrição da razão teórica pura, compreendida como fundamento
da matemática e da lógica, e, por extensão, da física e outras ciências
naturais. Este fundamento reside em um conjunto de "a prioris" que
torna possível, ao homem, o conhecimento. Além disso, introduz uma distinção
entre o “fenômeno” (aquilo que aparece para nós, ou aparência) e a “coisa em
si” (o incognoscível que está além da nossa capacidade de conhecer), e a
distinção entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
Kant as formula sob três perguntas:
Como é possível a matemática como
ciência?
Como é possível a física como ciência?
É possível a metafísica como ciência?
Percebe-se, com efeito, que Kant já
demonstra a possibilidade da matemática e a física como conhecimentos
científicos, restando-lhe apenas justificá-las como tal, contrariamente a metafísica
a qual nem ao menos cientificidade possui.
Nesse sentido, Kant não tentou explicar
o mundo, mas sim entender a razão, seus princípios e sua estrutura, ou seja,
procurou descobrir o que cabe à razão, constrói assim uma filosofia idealista
transcendental do conhecimento, fundamentada em uma crítica a racionalidade.
As obras de Kant costumam distribuir-se
por três períodos, denominados:
Pré-crítico;
Crítico;
Pós-crítico.
O primeiro momento corresponde à sua
filosofia dogmática, à sua aceitação da metafísica racionalista, na peugada de
Leibniz e de Wolff.
No segundo período escreve as suas obras
mais conhecidas e influentes: Crítica da Razão Pura, 1781, aborda a questão do
conhecimento; Crítica da Razão Prática, 1788, voltada para a Ética; e a Crítica
do Juízo, 1790, relacionada à Estética.
Além destas grandes obras, Kant publica
diversos estudos e opúsculos. Pelo vigor e originalidade do seu pensamento e
pela sua influência sobre o pensamento filosófico, ele é justamente considerado
um dos filósofos mais notáveis da cultura ocidental.
Ele chama de sensibilidade à
capacidade de receber representações (receptividade), graças à maneira como
somos afetadas pelos objetos, por intermédio dela nos são, pois, dados objetos,
fornecidas intuições, no entanto, é o entendimento que pensa esses
objetos, sendo dele que provêm os conceitos. Kant não atribui primazia a
nenhuma das duas capacidades, para ele, o conhecimento é possível a partir
das duas faculdades, ou seja, as condições materiais vindas da experiência, e
formais pertencentes à estrutura do sujeito. "sem a sensibilidade,
nenhum objeto nos seria dado; sem o entendimento, nenhum seria
pensado".
Que posso saber?
Que hei de fazer?
Que posso esperar?
Que posso saber? Para o conhecimento universal e
necessário ser possível, e dado que não pode provir da experiência, é preciso
que os objetos do conhecimento se determinem na natureza do sujeito pensante, e
não ao contrário, esta revolução do método, mostra como o entendimento, ao
legislar sobre a sensibilidade e a imaginação, torna possível uma física a
priori. Mas, se a natureza está submetida ao determinismo, pode o homem ser
livre? Kant postula a existência de uma alma livre animada por uma vontade
autônoma.
Que hei de fazer? Atuar estritamente segundo a
máxima que faz com que possas desejar simultaneamente que se converta numa lei
universal.
Que posso esperar? Para a espécie humana, o reino da
liberdade garantido por uma constituição política. Para o indivíduo, o
progresso da sua virtude e um melhor conhecimento do outro e de si mesmo
através da arte.
Reação ao “dogmatismo” racionalista e ao
“ceticismo” empirista.
Com a sua filosofia Kant conciliava as
disputas entre empiristas e racionalistas.
Kant observa que, para que se dê o
conhecimento, são precisos dois tipos de
condições: empíricas e a priori. As primeiras são particulares e
contingentes, quer dizer, dizem respeito a um sujeito e podem ser modificadas,
por exemplo, para ver uma coisa intervém a agudeza visual e o tamanho do
objeto, mas há outras a priori, universais e necessárias: o espaço
e o tempo, que estão sempre presentes e não procedem da experiência, mas a
antecedem (para ver algo, primeiro é preciso um lugar e um tempo no qual se
ordenam as impressões recebidas pela vista). Portanto, se existem condições a
priori, isto implica que o sujeito desempenha um papel ativo no processo do
conhecimento, traz algo para esse conhecimento e, portanto, não se limita a
receber passivamente o que percebe.
Primeiro Kant descreve que a experiência
consiste em uma ordenação dos fenômenos em um contexto espaço-temporal, o espaço e
o tempo sendo, então, a forma a priori da experiência, os fenômenos,
para ele, são dados pela intuição sensível no espaço e no tempo.
Vemos nisso que Kant distingue duas classificações da experiência conquanto a
sua forma, “espaço e o tempo” que é a priori,
e o seu conteúdo dado pela experiência, “o fenômeno”,
que é a posteriori.
Ao buscar os limites do conhecimento,
ele identifica como primeira regra do entendimento humano a
causalidade, no entanto, não satisfeito em pensar no princípio
de causalidade como a forma do pensamento abstrato, que é o fundamento
de todas as ciências experimentais (química, biologia, sociologia, psicologia),
elabora uma complexa tábua de categorias, de onde pretende deduzir
as estruturas transcendentais mais complexas do conhecimento, e apenas as
ciências formais (matemática e lógica) prescindiriam da causalidade, por não
lidarem com “fenômenos”, mas apenas com relações racionais e ideais.
Por outro lado, os juízos podem
ser analíticos ou sintéticos.
Os juízos analíticos são proposições cujo
predicado está compreendido no conceito do sujeito e, portanto, não são
extensivos, não trazem nada de novo ao conhecimento, ou seja, é uma mera
constatação, por exemplo: "o quadrado tem quatro lados iguais", “Todos
os homens são animais”.
Os juízos sintéticos, são
aqueles em que o predicado não está contido no sujeito, ou seja, que agrega uma
informação esses sim, ampliam o nosso conhecimento, por exemplo:
"este livro é de Filosofia", uma lei da física, expressa sob
forma de equação.
Nestes exemplos verificamos que o primeiro
também é um juízo a priori, porque o fato de um quadrado ter quatro lados
é uma característica essencial do mesmo e não precisamos da experiência para
comprová-lo. No segundo caso, trata-se de um juízo a posteriori, pois
necessitamos de recorrer à realidade para emiti-lo: é necessária a experiência.
Fazer ciência significa elaborar juízos
sintéticos, obtidos pela experiência limitada ao que ocorre no espaço e no
tempo e pelo conhecimento teórico. Já a Filosofia, ao contrário da ciência,
busca indagar as razões que tornam possível o conhecimento.
Entretanto, essa cientificidade referida
às tais matemáticas, é fundamentada mediante ao pressuposto o qual propõe só
haver conhecimento se houver nele algo de a priori, ou seja, sem o
apelo à experiência. Concomitantemente satisfazendo as suas condições de necessidade
e universalidade. Estas, porém, são conseguidas por intermédio dos juízos
sintéticos a priori. Esse tipo de juízo sacia a estas condições pelo fato
de ser sintético, ou seja, um juízo de ampliação do conhecimento
unindo um predicado ao seu sujeito e que conduz, esta, a condição da universalidade (válido
para todos), e por ser a priori, ou seja, um juízo de elucidação do
conhecimento identificando o predicado ao sujeito e que condiz, esta, a
condição da necessidade (válido em todo lugar).
Não obstante, seja qual for a ciência
que se tenha em mente, ela deverá ater-se somente à objetos oferecidos pela
experiência sensível como condição para o conhecimento legítimo. Estes, porém,
são intuídos pelo sujeito em meio às formas da intuição pura espaço-temporal e
consequentemente lapidadas pelas categorias do entendimento.
Todavia, o objeto de conhecimento tem que nos ser dado de qualquer forma, ele
tem que ser apresentado como um fenômeno (phaenomena)
para que se possa, assim, tornar-se um objeto para o conhecimento, se possa
efetivar um possível conhecimento do mesmo. Do contrário, se este não nos for
dado como objeto para ser conhecido, ele permanecerá num objeto em si mesmo,
uma coisa em si (noumena) e não poderá assim ser
conhecido, o qual não impede, todavia, de ser pensado.
A partir disso, é possível construir
toda uma distinção de objetos em dois grupos, denominados: fenômenos e noumenon,
os fenômenos, porque estão relacionados na intuição
espaço-temporal, sendo esta uma intuição empírica, em verdade, o fenômeno poderá
ser conhecido mediante o uso empírico do entendimento, e os noumenon aqueles
que são inacessíveis ao entendimento e a sensibilidade, noumenons estes,
entretanto, não sendo objeto algum da experiência, não estando de forma alguma
relacionadas na intuição espaço-temporal e permanecendo num
estado em si mesmo, só poderiam ser representados através de uma intuição intelectual
Depois, Kant descreve o intelecto,
isto é, a capacidade de pensar por meio de conceitos, ele diz que a
construção de conceitos é possível graças a uma capacidade de síntese da percepção,
com conformações das categorias, em outras palavras, construir
conceitos e sistemas conceptuais é uma faculdade do "cogito". Ora, um
dos argumentos principais de Kant é, exatamente, a distinção entre a experiência e
o intelecto.
Para Kant, o conhecimento sobre o mundo
surge da combinação entre razão e fenômeno. A
razão, sem fenômeno, só é capaz de construções óbvias; enquanto o fenômeno, sem
explicação racional, é vazio. Dessa maneira, o conhecimento é composto de matéria (que
são as coisas conforme elas se apresentam diante de nós) e forma (que
é a nossa racionalidade).
O uso transcendental, do qual não somos
autorizados e com o qual os seus objetos seriam meramente transcendentais e
ensimesmado, uma significação positiva, mas como não existe a possibilidade de
intuirmos intelectualmente este noumenon e de nenhuma outra
forma, estando este em sua condição não objetiva de nossa intuição sensível e,
portanto, não conhecível, nós só podemos entendê-lo com uma significação
negativa, e que da mesma forma pode-se concluir e definir estes objetos que não
podemos conhecer, mas sim pensar, como entes do entendimento e não como entes
dos sentidos, Deus é considerado o absoluto, portanto é absolutamente
livre: não se submete a nenhuma regra e, consequentemente, não pode ser
conhecido.
Para que seja demonstrada a veracidade
da matemática, Kant parte do princípio de que o espaço e o tempo pertencentes
a Estética Transcendental, são intuições, ou seja,
provenientes da experiência e não do intelecto, e
também que estas intuições são juízos sintéticos a priori,
isto é, independentes da experiência, mesmo nela se encontrando. Na Estética
Transcendental, observa-se como está estruturada a sua justificação em duas
exposições denominadas respectivamente por ele com os nomes de Exposição
metafísica e Exposição Transcendental.
Na exposição metafísica estão
contidas estas proposições da prova do espaço e o tempo como intuições
puras, pois essas são as formas em que estão situadas o conteúdo do
conhecimento, o objeto, o fenômeno,
Na exposição transcendental é
demonstrado como a matemática se relaciona com o espaço e o tempo, a saber,
através do espaço prova-se a validez da geometria como sendo essa a ciência que
contém os seus princípios embasados no espaço, e o tempo como pressuposto para
a aritmética, contendo esta o princípio do devir temporal cuja inexistência se
torna inconcebível a possibilidade das suas operações fundamentais.
A física, por sua vez, será
avaliada e julgada como ciência em outra parte da Crítica da Razão Pura, na Lógica
Transcendental, cujo intuito de demonstrar a veracidade da física se dá
pela investigação do intelecto humano e não mais pelo estudo da sensibilidade,
como propõe a Estética Transcendental. Porém, Kant distinguiu na Lógica duas
classificações no qual irão se diferenciar pelo seu uso, a saber, a Analítica
Transcendental e a Dialética Transcendental, esta última é denominada por
Kant sendo ela a "lógica da ilusão" e que provará como a metafísica
não é uma ciência, invalidando-a como um conhecimento duvidoso. Contudo, na
Analítica Transcendental, é validado as categorias do entendimento por sua
utilização necessária na formação do conhecimento, o qual só existe uma vez que
é um produto de síntese objetiva com o intelectual.
As categorias do entendimento são
baseadas nos juízos da lógica aristotélica, sendo estes juízos pertencentes à
Lógica Geral o qual abstrai de todo o conteúdo do
conhecimento. Com isso ver-se-á necessário tal ciência que determinasse a
origem, o âmbito e a validade "objetiva" de tais conhecimentos, e que
se chamaria lógica transcendental. Esta, por sua vez, não abstrairia do conteúdo
como o faz a lógica geral e o consideraria, tornando-a objetiva.
No entanto, para Kant, a razão possui a
sua limitação, como podemos perceber na sua obra como um todo ou podemos ainda
nos reportar a uma analogia feita por ele onde se verifica uma comparação da
razão com uma pomba em pleno voo do qual se podem tirar algumas possíveis
conclusões. Entre elas, poderíamos intuir que assim como é
impossível uma pomba ao menos sobreviver sem o ar do qual necessita para se
manter viva, a razão humana não poderia sequer sobreviver sem a experiência que
precisa para sintetizar os seus objetos com o conceito e sem o qual não pode
sequer haver conhecimento. Mas agora entenderíamos outro tipo de relação, a
saber, aquela em que para haver conhecimento necessitaríamos tanto da estrutura
a priori quanto do objeto a posteriori. Assim, para haver cientificidade no
conhecimento, precisaríamos das duas partes.
Em seguida, limitou o conhecimento ao
mundo dos fenômenos, ou seja, das ações que se apresentam diante de nós. Dessa
forma, qualquer situação que ocorra fora do espaço e do tempo não pode ser
conhecida.
“Todo fenômeno tem uma causa, ou seja, apresenta-se diante da razão no
espaço e no tempo. Portanto algo que não tem causa não pode ser conhecido”.
Kant opõe a Hume com a suposição de
que, se a necessidade e universalidade não podem vir da experiência, mas se,
são condições necessárias de um verdadeiro conhecimento, então terão de ser um
elemento a priori do mesmo. Considera que, para entender a
experiência (conhecimento a posteriori), é necessário ter conhecimentos
que não provenham da experiência (conhecimentos a priori): "embora todo
o nosso conhecimento comece com a experiência, isso não significa que proceda
todo da experiência". Só assim é que o conhecimento empírico pode ter
as condições exigidas pelo verdadeiro conhecimento (universalidade e
necessidade) características que a experiência por si só não pode outorgar.
Uma grande ideia de Kant foi a posição
que opera uma mudança de método, tal como a afirmação de que não é o
entendimento que se deixa governar pelos objetos, mas são estes que se submetem
às leis do conhecimento impostas pelo entendimento humano. Trata-se de uma
"revolução copernicana”, um salto radical em relação ao empirismo.
Outra importante ideia de Kant diz
respeito á necessidade de se encarar a experiência a partir de um
questionamento prévio elaborado racionalmente. “Quem não sabe o que busca,
não identifica o que acha”, afirmou Kant, apontando para a problematização
como uma atividade essencial do conhecimento.
Os homens percebem o mundo a sua volta
por meio da intuição, entendida como um dado obtido pelos sentidos sem a
intermediação da linguagem ou da lógica. A visão é o principal sentido da
intuição.
Existem dois tipos de intuição,
a pura e a empírica.
A intuição pura é a forma como percebemos o mundo
antes da experiência, ou seja, é a forma mais “crua” do entendimento. É
constituída pelo espaço e pelo tempo, que são propriedades
da consciência. “O espaço é o fundamento de toda intuição, é a forma
como sentimos a exterioridade. Ou, em outras palavras, é a forma de nosso
sentido externo. O tempo inclui a lembrança do passado e a previsão do tempo
que se encontra na nossa interioridade. É a forma como percebemos a nós mesmos”:
quando digo “Sou o Emanuel”, sei que cheguei a essa conclusão porque tenho sido
o Emanuel ao longo do tempo. Kant usa o termo a priori (antes da experiência)
para se referir à intuição pura.
A intuição empírica é
uma associação da razão com a experiência. Ou seja, é a forma como,
partindo de um questionamento sobre o mundo dos fenômenos, chegamos a um
pensamento sobre ele. Em outras palavras, é o conhecimento obtido a posteriori
(depois da experiência).
Mas a grande descoberta é afirmar que
há juízos sintéticos a priori: aumentam o nosso conhecimento (são
sintéticos) e são universais e necessários (a priori), e, além disso, são
próprios das ciências. Assim, um juízo como "os objetos caem devido à lei
da gravidade", é sintético porque o predicado nos traz uma informação que
não está incluída no sujeito "os objetos", e é a priori porque, se é
certo que o comprovamos pela experiência e pelo hábito, as coisas caem
necessariamente e a experiência não mostra ligações necessárias, mas apenas
contingentes.
Deste modo, Kant desenvolve uma teoria
que resolva a dicotomia entre os empiristas e os racionalistas. Face aos
racionalistas, afirma que é verdade que o sujeito traz algo de si, o espaço,
o tempo e as categorias, mas isso sem a experiência nada
é. Em relação aos empiristas, também defende que o conhecimento deve ater-se à
experiência, mas esta não consiste em meras impressões: estas impressões são
ordenadas pelo sujeito no espaço e no tempo. Esta ordem é comum a
toda a experiência, pelo que o conhecimento desta ordem tem caráter universal
e necessário. Com essa concepção, Kant promove a conciliação entre
racionalismo e empirismo. A partir daí, surge a noção de ciência
enquanto atividade que busca, essencialmente, estabelecer uma relação entre as
formas gerais da razão, ou seja, o entendimento, e o mundo dos fenômenos. A intuição é
uma forma passiva de obter o conhecimento, enquanto o entendimento é
uma forma ativa. Através do entendimento, o homem emite juízos.
No que se refere ao idealismo, a
filosofia kantiana lega aos seus sucessores três grandes problemas:
A sua concepção do idealismo como
idealismo transcendental;
A oposição entre a razão teórica e a
razão prática;
O problema da coisa em si.
A filosofia posterior a Kant assume até
as suas últimas consequências a razão crítica. Os filósofos esforçam-se por
desenvolver as teses kantianas na linha da razão prática. Tanto o idealismo
subjetivo de Fichte como o idealismo objetivo de Schelling são tentativas muito
meritórias nessa linha. Mas a superação do kantismo não se consegue até à
formulação do sistema de Hegel.
A Razão Pura Pratica
A razão pura prática é aqui
imediatamente legisladora. A vontade é concebida como independente de condições
empíricas, por conseguinte, como vontade pura determinada pela simples forma da
lei, e este princípio de determinação é visto como a condição suprema de todas
as máximas.
O a priori é tudo aquilo que é valido
independentemente de qualquer condição ou imposição derivada da experiência.
O Agir Livre
O imperativo que se refere à escolha dos
meios para a própria felicidade, isto é, o preceito da sagacidade, é
hipotético.
O agir livre é o agir moral, o agir
moral é o agir de acordo com o dever; o agir de acordo com o dever é fazer de
sua lei subjetiva um princípio de legislação universal, a ser inscrita em toda
a natureza.
Lei Pragmática e Lei Moral
A felicidade não é fundamento da moral,
mas sim o dever. “Designo por lei pragmática a lei prática que tem por motivo a
felicidade; e por moral, se existe alguma, a lei que não tem outro móbil que
não seja indicar-nos como podemos tornar-nos dignos da felicidade”.
O homem figura como ser racional fim em
si mesmo, capaz de governar-se a si próprio.
Imperativo Pratico e Vontade Livre
Imperativo prático: “age de tal modo que
possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro,
sempre como um fim ao mesmo tempo e nunca somente como meio”.
Vontade livre e vontade submetida a leis
morais são a mesma coisa.
“Vontade é uma espécie de causalidade
dos seres vivos, enquanto racionais, e liberdade seria a propriedade desta
causalidade, pela qual pode ser eficiente, independente de causas estranhas que
a determinem”.
Moralidade e Mundo Moral
“A moralidade é, pois a relação das
ações com a autonomia da vontade, isto é, com a possível legislação universal,
por meio das máximas da mesma.”
O mundo moral é o mundo conforme as leis
da moralidade. É a vontade que governa, na prática, por leis a priori o homem.
Características das Máximas
Todas as máximas têm:
1. uma forma que consiste na
universalidade;
2. uma matéria, que o ser racional deve
servir como fim por sua natureza;
3. que todas as máximas devem concordar
em um reino possível de fins.
Direito e Moral
Direito e moral distinguem-se como duas
partes de um mesmo todo unitário. O agir ético tem um único móvel, a saber, o
cumprimento do dever pelo dever. O agir jurídico pressupõe outros fins. A
juridicidade também pressupõe coercitividade.
O Estado será o instrumento para a
realização dos direitos, que regulamente o convívio das liberdades.
Kant faz da ética o lugar da liberdade.
Esta reside na observância e na conformidade do agir com a máxima do imperativo
categórico.
O domínio do dever é o domínio da
liberdade do espírito. Diferente da moralidade a juridicidade lida com os
conceitos de coercitividade exterioridade e pluralidade de fins na ação.
SANTANA, Ulisses da Silva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário