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sexta-feira, 22 de abril de 2016

ENTRE MEDO E LÁGRIMAS ©

Medo e lágrimas me acompanharam por toda a vida.
Chorei pela primeira vez no instante em que fui concebido. Um sentimento de medo me envolveu ao perder o conforto do ventre materno, naquele encontro com a imensidão quase infinita que a existência tem a oferecer.
A percepção da possibilidade de perda me induziu em alguns momentos a ser intrépido e audaz, no entanto, o medo das adversidades que o desconhecido me reservará, sempre esteve presente em minha vida, estabelecendo as possibilidades e redimensionando os limites, como uma força motriz que move o mundo.
Tive medo das pessoas e das coisas! medo de sorrir ou chorar! medo de dormir e não acordar! medo do imanente e do transcendente! medo do passado, do presente, do futuro! medo da fome e dos famintos! medo da riqueza dos poderosos! medo da fartura e da miséria! medo do conhecido e medo do sobrenatural! medo da solidão em meio a multidão! medo de ser destemido! medo de sentir medo! e grande temor em ter que expressar esse sentimento.
O medo fez parte da minha existência, Ao nascer! Senti medo da vida, ao viver! Senti medo da morte.
Chorei de alegria muitas e muitas vezes... chorei por tristeza também, chorei nas derrotas, nas vitórias, por mim mesmo e por muitas outras pessoas... chorei por coisas materiais, por fatos e fenômenos imateriais.
VI! vivi! e ouvi! uma vida entre sorrisos e lágrimas, porém, as lágrimas que produzi foram maiores que meu espirito e essenciais à meu âmago, me acompanharam nos momentos de tristezas e alegrias.
Tive medo da morte quando a encontrei pela primeira vez..., esse sentimento foi-se desconstruindo ao longo do tempo, mas só o perdi totalmente quando parti.
Senti nesse instante uma sensação de alívio, por poder regressar para onde eu nunca deveria ter saído.
Ganhei ou perdi?
Deixei para traz tudo que conquistei, tudo que construí, tudo que vivi e senti. Ganhei a ausência do nada na imensidão do eterno vazio, sem medo de ser infinitamente feliz outra vez.
Quando me vi inerte, prostrado ali em um sepulcro caiado, muitas foram as pessoas que derramaram suas lágrimas.
Expressões de sentimento pela perda de algo que não lhes pertencia, o choro pela ausência daquilo que não lhes fará falta, o choro por restar-lhe ainda o medo da solidão do vazio.
Ulisses Pavinič  Professor e poeta

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